Crianças que aos três anos faziam atividade física, apresentaram, aos cinco anos, mais chances de praticar esportes
Quanto maior a oportunidade de prática esportiva nos primeiros anos de vida, maior será a probabilidade de continuidade dessa prática nos anos posteriores. É o que mostra o artigo Association between sports participation, motor competence and weight status: A longitudinal study desenvolvido com a participação do professor Alessandro Hervaldo Nicolai Ré, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
“Fornecer oportunidades adequadas de participação em esportes e de desenvolvimento das habilidades motoras durante a infância pode promover a prática de atividade física nos anos posteriores, com impacto positivo na qualidade de vida e no combate a uma série de doenças associadas ao sedentarismo. Em outras palavras, a promoção da atividade física e esportiva na infância é uma importante estratégia de saúde pública”, destaca o professor Nicolai Ré.
A pesquisa faz parte de uma parceria envolvendo Brasil (com os estados de São Paulo e Pernambuco), Estados Unidos e Austrália e que desenvolve vários outros estudos em conjunto sobre o mesmo tema. O artigo contou com a participação dos pesquisadores da Universidade de Pernambuco Rafael S.Henrique (autor principal do artigo), Carolina M. C. Campos, Daniel R. Queiroz e Maria T. Cattuzzo, além dos pesquisadores David F. Stodden, da Universidade da Carolina do Sul (Estados Unidos), e Job Fransen, da Universidade de Newcastle (Austrália).
O estudo foi realizado na região metropolitana de Recife e envolveu 292 crianças de pré-escolas públicas e privadas, entre três e cinco anos de idade. Elas foram distribuídas em grupos que frequentavam e que não frequentavam aulas formais de esporte, como dança, futebol e natação no contra turno escolar. Foram avaliadas a competência motora e o índice de massa corporal (IMC) no início do estudo e repetidas as mesmas medidas após dois anos, incluindo a informação sobre a prática esportiva.
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A competência motora de crianças pode ser definida como a capacidade de executar habilidades motoras fundamentais de modo condizente à idade. O IMC é uma medida utilizada mundialmente para saber se uma pessoa está ou não em seu peso ideal. Para obtê-lo, basta dividir o peso da pessoa pela sua altura ao quadrado.
Para avaliar a competência motora, foi utilizado um teste específico para a faixa etária denominado Test of Gross Motor Development 2 (TGMD-2). Nesse teste, são gravados vídeos de cada criança durante a execução de tarefas que envolvem habilidades de locomoção (correr, saltar, galopar, saltitar) e de controle de objetos (chutar, rebater, receber, arremessar). Posteriormente, o desempenho das crianças foi avaliado segundo critérios específicos do teste, como por exemplo, flexão do joelho durante a corrida. Também foram realizadas entrevistas com os pais para verificar a participação das crianças em práticas esportivas estruturadas e com orientação profissional.
Mais chances para a prática esportiva
As crianças que já praticavam esporte no início do estudo e apresentavam maior competência motora nas habilidades de locomoção apresentaram 21% a mais de chances de continuar frequentando a prática esportiva após dois anos, independentemente de seu IMC.
De acordo com a pesquisa, é fundamental que a criança sinta prazer na prática esportiva, goste e queira voltar à aula .
Segundo o professor, o ambiente familiar de incentivo e de oportunidade adequada de prática de atividade física é o principal fator de influência para o desenvolvimento da competência motora em crianças. Em seguida, estão o local onde a ela reside, a escola que frequenta e a comunidade onde está inserida.
Nicolai Ré também destaca que o mais importante não é exatamente a modalidade esportiva que a criança pratica, mas o fundamental é que ela sinta prazer naquilo, goste e queira voltar na aula. Isso mostra que uma aula de boa qualidade é essencial para o despertar constante do interesse da criança.
Por: Valéria Dias
Fonte: Jornal da Usp